sábado, 21 de abril de 2018

Tiradentes um bode expiatório ou só um falso herói?



Os estudos históricos de natureza acadêmicos há mais de 30 anos que vem nos apresentando uma produção histórica não factual e muito pouco ficcional, esta historiografia mais criteriosa e crítica nos mostra uma inconfidência mineira diferente daquela que aprendemos nos livros didáticos, e infelizmente nos filhos continuam aprendendo que os livros didáticos continuam mistificando a figura de Tiradentes como um herói que lutou pela emancipação do Brasil. Mas um erro que ele não poderia luta por um Brasil por que ainda não havia uma ideia de nação brasileira, quanto mais uma ideia de estado brasileiro. Os mineradores dos gerais não tinham tais valores patrióticos, eles protestavam contra a devassa, contra a exploração e contra o aumento do controle nas áreas de mineração imposto pelo estado português. Não havia caráter político e ideológico na luta dos inconfidentes, mas puramente econômico.
Embora a historiografia oficial considere a inconfidência mineira (1789) como uma grande luta para a libertação do Brasil,  historiadores como inglês brasilianista Kenneth Maxwell, sua obra "A devassa da devassa" (Rio de Janeiro, Terra e Paz, 2ª ed. 1978.), diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais como uma forma de se livrarem da exploração da autoridades portuguesas que cobravam de forma compulsória e forçada o imposto real (derrama) que era o quinto (1/5 ou 20%) da exploração aurífera como no inicio da mineração não respeitando as limitações, o esgotamento das minas que já não produziam como antes.
A historiografia não factual e crítica nos mostra um Tiradentes bem mudado: sem barba, sem liderança e sem glória. Segundo Maxwell, Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o "bode expiatório" da conspiração. (op.cit., p. 222) "Na verdade, o alferes provavelmente nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos mais amplos do movimento." (p.216) O que é natural acreditar. Como um simples alferes (o equivalente a tenente, hoje), que era o alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de "Tiradentes", poderia liderar grandes proprietários rurais, clérigos, intelectuais e alguns oficiais, podemos cita o contratador Domingos de Abreu Vieira, os padres José da Silva e Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues da Costa e Carlos Correia de Toledo e Melo, o cônego Luís Vieira da Silva, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o capitão José de Resende Costa e seu filho José de Resende Costa Filho, o sargento-mor Luís Vaz de Toledo Pisa?
A Folha de S. Paulo publicou um artigo (21-04-98) no qual se comentam os estudos do historiador carioca Marcos Antônio Correa. Correa defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792. Ele começou a suspeitar disso quando viu uma lista de presença da Assembleia Nacional francesa de 1793, onde constava a assinatura de um tal Joaquim José da Silva Xavier, cujo estudo grafotécnico permitiu concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes. Segundo Correa, um ladrão condenado morreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. Testemunhas da morte de Tiradentes se diziam surpresas, porque o executado aparentava ter menos de 45 anos. Sustenta Correa que Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Silva (maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa) e embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.
Isso confirma o que havia dito Martim Francisco (irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva): que não fora Tiradentes quem morrera enforcado, mas outra pessoa, e que, após o esquartejamento do cadáver, desapareceram com a cabeça, para que não se pudesse identificar o corpo.
Frase atribuída a Tiradentes pelos republicanos, "Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil". Como só tinha uma, talvez Tiradentes tenha preferido ficar com ela. Não se pode esquecer que como a elite branca exploradora e excludente deste país não produziu heróis trataram de fabricar um.  


Prof. José Cícero Gomes