quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nacionalismo e o Anti-Semitismo Europeu




Na primeira metade do século XIX, o nacionalismo esteve ligado a movimentos por liberdade. Isto levou a populações de regiões oprimidas a buscarem sua independência de governos estrangeiros, e alimentou um sentimento de comunidade entre os povos que compartilhavam tradições semelhantes.
Na segunda metade do século, porém, os sentimentos nacionalistas começaram a se tornar forças malignas. Nacionalistas extremos acreditavam que o prestígio de sua nação era mais importante que direitos democráticos ou a liberdade individual. Alguns pensadores do movimento começaram a ver a democracia e a preocupação com os direitos individuais como sinais de fraqueza.
Os nacionalistas extremos glorificavam a guerra e o poder militar. Eles declararam que a guerra traria heroísmo e grandeza para seus países. Muitos destes extremistas falavam em governar sobre todas as terras e povos que “por direito” pertenciam à sua nação.
Uma das maiores ameaças do nacionalismo extremo foi a prática e aceitação do racismo – a crença em que um grupo social ou racial é superior aos outros. O racismo havia existido por milhares de anos, mas tornou-se especialmente forte durante o século XIX. Alguns trabalhadores que sofriam dificuldades financeiras sentiam-se ameaçados pelas mudanças econômicas da época e culpavam outros grupos étnicos por seus problemas. Os nacionalistas extremos temiam que minorias em seus países quebrassem a união nacional.
No fim do século XIX, o racismo tornou-se predominante na Europa. Os argumentos racistas eram muitas vezes utilizados para justificar tratamentos cruéis e injustos às minorias locais. Os governos freqüentemente usavam as crenças racistas para justificar seu direito de controlar outras pessoas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A república Velha, uma república de senhores do café



A República formal e a Realidade Social

A constituição de 1891 era expressão daquilo que existia de mais avançado nos países europeus e norte-americanos, onde a burguesia havia muito se consolidara. Por isso mesmo sua aplicação efetiva era muito dificultada. Apesar da Abolição da escravidão (1888) persistia no Brasil o caráter colonial da economia. O Brasil era um país de economia essencialmente agrária, salientando-se aquelas unidades voltada para o mercado externo e dele dependentes. Daí a pouca importância para o mercado interno e ausência de conexões econômicas entre várias regiões, que na verdade se sobrepunham, ao invés, de se completarem mutuamente.A solução federalista, adotada pela constituição de 1891, que deu autonomia aos estados, não estabeleceu como devia a igualdade entre os membros da federação. Ao contrário, criou oportunidades para os grandes estados dominassem o poder federal segundo seus próprios interesses.A fundação da república veio, na realidade, atender os interesses dos grandes fazendeiros de café paulistas, mineiro e cariocas. A República Velha, por isso foi chamada de República do Café. A imensa população dependia da economia cafeeira, direta ou indiretamente, considerando inclusive os setores urbanos em desenvolvimento. A grande massa que foi marginalizada na própria elaboração da República permaneceria como espectador passivo até o final da República Velha.Modelo Agro explorador - A América Latina como fornecedora de matéria prima e consumidora de produtos industrializados vindos da Inglaterra.

fonte:KOSHIBA, Luiz; PEREIRA, Denise manzi Frayze.História do Brasil. atual ed. São Paulo, 1993.

A Revolta da Chibata


No ano de 1910, mais de 200 marujos agitaram a Baía de Guanabara, ao se apoderarem de navios de guerra para exigir o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil, herança do período imperial, onde essa arma era tida como a mais importante e dirigida pelos mais "aristocráticos" oficiais. Foi a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, o Almirante Negro.
O Minas Gerais, um dos modernos navios recém-adquiridos pela Marinha na época da RevoltaO Brasil era uma das maiores potências navais do mundo, destacando-se a sua Esquadra Branca formada pelos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, pelos cruzadores Rio Grande do Sul e Bahia e por mais 18 navios. O Governo gastara uma fortuna para modernizar sua esquadra, mas o código disciplinar da Marinha era o mesmo do tempo da monarquia, assim como os arbitrários processos de recrutamento. Criminosos e marginais, produtos de uma sociedade que lhes negava maior sorte, eram colocados lado a lado com homens simples do interior para cumprir serviço obrigatório durante 10 a 15 anos! As desobediências ao regulamento eram punidas com chibatadas. Por isso, as revoltas ocorriam antes mesmo do ingresso na corporação.O decreto nº 3, de 16 de novembro de 1889, um dia após a Proclamação da República, extinguiu os castigos corporais na Armada, mas em novembro do ano seguinte o marechal Deodoro, contraditoriamente, tornou a legalizá-los: "para as faltas leves prisão e ferro na solitária, a pão e água; faltas leves repetidas, idem por seis dias; faltas graves, 25 chibatadas".Como os reclamos dos marujos não foram ouvidos, eles passaram a conspirar. Uma primeira advertência foi feita durante a ida de uma divisão da Marinha às comemorações da Independência chilena, em que ocorreram 911 faltas disciplinares, a maioria punida com açoites: "Venho por meio destas linhas pedir para não maltratar a guarnição deste navio, que tanto se esforça por trazê-lo limpo. Aqui ninguém é salteador nem ladrão", dizia um aviso ao comandante de um dos navios, assinado por um marinheiro conhecido como Mão Negra.Na madrugada de 16 de Novembro a Guanabara estava repleta de navios estrangeiros que aportaram para a posse do marechal Hermes da Fonseca na presidência da República. Ao raiar do dia, toda a tripulação do navio Minas Gerais foi chamada ao convés para assistir aos castigos corporais a que seria submetido o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes. Na noite anterior ele ferira a navalhadas o cabo Valdemar, que o havia denunciado por introduzir duas garrafas de cachaça no navio. Sua pena: 250 chibatadas e não mais 25 como vinha acontecendo.Junto à tripulação do navio havia também oito carrascos oficiais. Depois de examinado pelo médico de bordo e considerado em perfeitas condições físicas, Marcelino foi amarrado pelas mãos e pés e submetido ao castigo. Durante o castigo, Marcelino desmaiou de dor, mas a surra continuou. Ao fim das 250 chibatadas, suas costas estavam banhadas em sangue, lanhadas de cima para baixo. Desacordado, ele foi desamarrado, embrulhado num lençol e levado aos porões. Lá jogaram iodo em suas costas e o deixaram estrebuchando no chão.A Campanha Civilista de Rui Barbosa à presidência da República, as revoltas populares ocorridas no Rio de Janeiro na primeira década do século XX e o descontentamento de diversos setores da sociedade com o tipo de República liberal que foi instaurada no país, foram fatores que fizeram parte do contexto no qual se insere a Revolta da Chibata, deixando à mostra o grande descontentamento social presente no Brasil na época anterior a I Grande Guerra. Expondo assim a inserção dos marinheiros na vida social da capital federal.Tendo que se adicionar ainda a esse painel a falta crônica de mão-de-obra para a Marinha de Guerra, além do alistamento militar feito de maneira brutal, engajando criminosos (muitas vezes capoeiras), separando famílias e engajando homens e adolescentes por vinte anos, tempo que muitos deles não resistiam. Apesar de já existirem as primeiras Casas de Aprendiz de Marinheiros, locais destinados a órfãos e meninos pobres que eram educados para vida como praças da Marinha de Guerra, eram homens mestiços ou negros, em sua maioria, que serviam ao projeto de país e ao projeto civilizatório das massas perigosas, na visão das elites. Todavia, tais homens entrando em contato não somente com o duro labor, mas, também com populações do país inteiro sem esquecer das missões internacionais, possivelmente proporcionaram uma maior compreensão da realidade deles. Tornando cada vez mais latente e insustentável sua situação, a ponto de após a renovação de parte da esquadra de guerra, com a aquisição de encouraçados britânicos, deixou mais claro a falta de qualificação e o arcaísmo das codificações da Marinha de Guerra. Para tanto os marinheiros sublevados filtraram dos discursos políticos existentes algumas idéias para fundamentar suas revindicações como revela uma carta enviada por um marinheiro sublevado para o jornal Correio da Manhã de 25/11/1910:
Ao lado de um dos marinheiros, João Cândido lê o manifesto da Revolta: (Agência Estado)“Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910 – Ilustrado sr. redator do Correio da Manhã – É doloroso o fato que ora se passa na nossa marinha de guerra, mas, sr. redator, quem os culpados? Justamente os superiores da referida Armada, estes que deviam encarar os seus subordinados como homens servidores da pátria; pelo contrario, eles são tratados como desprezíveis e sujeitos, á simples falta, nos castigos mais rigorosos possíveis. Têm hoje como símbolo do martírio desses infelizes a palmatória, as algemas, e o chicote, e tudo isso, ilustre sr. redator, na marinha que, conforme os plano do sr. ex-ministro dizia civilizar-se. A escravidão terminou-se a 13 de maio de 1888, com a áurea lei da liberdade, e os oficiais da nossa marinha de guerra, conquanto as leis militares tivessem abolido castigos, não ligaram importância às leis militares e à disciplina, castigando os seus subordinados com ódio com que os senhores castigavam os mãos escravos. Sr. redator, é doloroso sim, ver-se a nossa marinha de hoje passar fome e todas as privações, pelo descaso dos comandantes de navios da Armada. Com um pessoal resumido e sofredor, eles querem o serviço feito a tempo e hora, sem encarar o cansaço, isto quando em viagens longas, como se deu nestas vindas das nossas unidades da Europa para aqui.Os nossos pobres marinheiros e foguistas vieram como verdadeiros escravos, passando fome e sendo constantemente castigados com os ferros, a chibata e o bolo; em um dos últimos navios chegados, o comandante, durante a viagem, em alto mar, mandava amarrar o pobre marinheiro e fazia com este fosse lavar e pintar o costado do navio. Foguistas, estes coitados, faziam 6 horas de quarto e não tinham o direito ao descanso que, pela lei, lhes toca, porque eram logo chamados para outros serviços. O verdadeiro navio negreiro. É necessário, sr. redator, que publiqueis estas mal escritas palavras, afim de que, chegando elas ao conhecimento das autoridades competentes, possam sanar o mal, e o fato igual não mais se reproduza na nossa marinha de guerra. É necessário que os oficiais da Armada compreendam que estamos no século da luz. Abaixo a chibata, as algemas e a palmatória – Um marinheiro.”O uso do açoite, como visto, continuou sendo aplicado nos marinheiros como medida disciplinar, como no tempo em que existia o pelourinho. Todos os marinheiros, na sua esmagadora maioria negros, continuavam a ser açoitados às vistas dos companheiros, por determinação da oficialidade branca.Os demais marujos eram obrigados a assistir à cena infamante no convéns das belonaves. Com isto, criaram-se condições de revolta no seio dos marujos. Os seus membros não aceitavam mais passivamente esse tipo de castigo. Chefiados por Francisco Dias, João Cândido e outros tripulantes do Minas Gerais, navio capitânia da esquadra, organizaram-se contra a situação humilhante de que eram vítimas. Nos outros navios a marujada também se organizava: o cabo Gregório conspirava no São Paulo, e no Deodoro havia o cabo André Avelino.Num golpe rápido, apoderaram-se dos principais navios da Marinha de Guerra brasileira e se aproximaram do Rio de Janeiro. Em seguida mandaram mensagem ao presidente da República e ao ministro da Marinha exigindo a extinção do uso da chibata.O governo ficou estarrecido. Acharam tratar-se de um golpe político das forças inimigas. O pânico apoderou-se de grande parte da população da cidade. Muitas pessoas fugiram. Somente em um dia correram 12 composições especiais para Petrópolis, levando 3 000 pessoas. Todos os navios amotinados hastearam bandeiras vermelhas. Alguns navios fiéis ao governo ainda tentaram duelar com os revoltosos, mas foram logo silenciados. Com isto os marujos criaram um impasse institucional. De um lado a Marinha, que queria a punição dos amotinados, em conseqüência da morte de alguns oficiais da armada. Do outro lado, o governo e os políticos, que sabiam não ter forças para satisfazer essa exigência. Mesmo porque os marinheiros estavam militarmente muito mais fortes do que a Marinha de Guerra, pois comandavam, praticamente, a armada e tinham os canhões das belonaves apontados para a capital da República.Depois de muitas reuniões políticas, nas quais entrou, entre outros, Rui Barbosa, que condenou os “abusos com os quais, na gloriosa época do abolicionismo, levantamos a indignação dos nossos compatriotas”, foi aprovado um projeto de anistia para os amotinados. Com isto, os marinheiros desceram as bandeiras vermelhas dos mastros dos seus navios. A revolta havia durado cinco dias e terminava vitoriosa. Desaparecia, assim, o uso da chibata como norma de punição disciplinar na Marinha de Guerra do Brasil.As forças militares, não-conformadas com a solução política encontrada para a crise, apertaram o cerco contra os marinheiros. João Cândido, sentindo o perigo, ainda tentou reunir o Comitê Geral da revolução, inutilmente. Procuraram Rui Barbosa e Severino Vieira, que defenderam a anistia em favor deles, mas sequer foram recebidos por esses dois políticos. Uniram-se, agora, civis e militares para desafrontar os “brios da Marinha de Guerra” por eles atingidos. Finalmente veio um decreto pelo qual qualquer marinheiro podia ser sumariamente demitido. A anistia fora uma farsa para desarmá-los.São acusados de conspiradores, espalharam boatos de que haveria uma outra sublevação. Finalmente, afirmaram que a guarnição da ilha das Cobras havia se sublevado. Pretexto para que a repressão se desencadeasse violentamente sobre os marinheiros negros. O presidente Hermes da Fonseca necessitava de um pretexto para decretar o estado de sítio, a fim de sufocar os movimentos democráticos que se organizavam. As oligarquias regionais tinham interesse em um governo forte. Os poucos sublevados daquela ilha propuseram rendição incondicional, o que nãofoi aceito. Seguiu-se uma verdadeira chacina. A ilha foi bombardeada até ser arrasada. Estava restaurada a honra da Marinha.
João Cândido é escoltado para a prisão (Agência Estado)João Cândido e os seus companheiros de revolta foram presos incomunicáveis, e o governo e a Marinha resolveram exterminar fisicamente os marinheiros. Embarcaram-nos no navio Satélite rumo ao Amazonas.Os 66 marujos que se encontravam em uma masmorra do Quartel do Exército e mais 31, que se encontravam no Quartel do 1º Regimento de Infantaria, foram embarcados junto com assassinos, ladrões e marginais para serem descarregados nas selvas amazônicas. Os marinheiros, porém, tinham destino diferente dos demais embarcados. Ao lado dos muitos nomes da lista entregue ao comandante do navio, havia uma cruz vermelha, feita a tinta, o que significava a sua sentença de morte. Esses marinheiros foram sendo parceladamente assassinados: fuzilados sumariamente e jogados ao mar.João Cândido, embora não tenha participado do novo levante, também é preso e enviado para a prisão subterrânea da Ilha das Cobras, na noite de Natal de 1910, com mais 17 companheiros. Os 18 presos foram jogados em uma cela recém-lavada com água e cal. A cela ficava em um túnel subterrâneo, do qual era separada por um portão de ferro. Fechava-a ainda grossa porta de madeira, dotada de minúsculo respiradouro. O comandante do Batalhão Naval, capitão-de-fragata Marques da Rocha, por razões que ninguém sabe ao certo, levou consigo as chaves da cela e foi passar a noite de Natal no Clube Naval, embora residisse na ilha.A falta de ventilação, a poeira da cal, o calor, a sede começaram a sufocar os presos, cujos gritos chamaram a atenção da guarda na madrugada de Natal. Por falta das chaves, o carcereiro não podia entrar na cela. Marques da Rocha só chegou à ilha às oito horas da manhã. Ao serem abertos os dois portões da solitária, só dois presos sobreviviam, João Cândido e o soldado naval João Avelino. O Natal dos demais fora paixão e morte.O médico da Marinha, no entanto, diagnosticou a causa da morte como sendo "insolação". Marques da Rocha foi absolvido em Conselho de Guerra, promovido a capitão-de mar-e-guerra e recebido em jantar pelo presidente da República.João Cândido continuou na prisão, às voltas com os fantasmas da noite de terror. O jornalista Edmar Morel registrou assim seu depoimento pessoal: "Depois da retirada dos cadáveres, comecei a ouvir gemidos dos meus companheiros mortos, quando não via os infelizes, em agonia, gritando desesperadamente, rolando pelo chão de barro úmido e envoltos em verdadeiras nuvens da cal. A cena dantesca jamais saiu dos meus olhos. João Cândido enlouqueceu, sendo internado no Hospital dos Alienados.Ele e os companheiros só seriam absolvidos das acusações em 1912. Tuberculoso e na miséria, conseguiu, contudo, restabelecer-se física e psicologicamente. Perseguido constantemente, morreu como vendedor no Entreposto de Peixes da cidade do Rio de Janeiro, sem patente, sem aposentadoria e até sem nome, este herói que um dia foi chamado, com mérito, de Almirante Negro.Os que fizeram a Revolta da Chibata morreram ou foram presos, desmoralizados e destruídos. Seu líder, como visto, terminou sem patente militar, sem aposentadoria e semi-ignorado pela História oficial. No entanto, o belíssimo samba "O Mestre-Sala dos Mares", de João Bosco e Aldir Blanc, composto nos anos 70, imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata. Como diz a música, seu monumento estará para sempre "nas pedras pisadas do cais". A mensagem de coragem e liberdade do "Almirante Negro" e seus companheiros resiste.HOMENAGEM DE JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC À "REVOLTA DA CHIBATA""Mestre-Sala dos Mares", de João Bosco e Aldir Blanc, composto nos anos 70, imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata. Sobre a censura à música, o compositor Aldir Blanc conta:"Tivemos diversos problemas com a censura. Ouvimos ameaças veladas de que a Marinha não toleraria loas a um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais etc. Fomos várias vezes censurados, apesar das mudanças que fazíamos, tentando não mutilar o que considerávamos as idéias principais da letra. Minha última ida ao Departamento de Censura, então funcionando no Palácio do Catete, me marcou profundamente. Um sujeito, bancando o durão, (...) mãos na cintura, eu sentado numa cadeira e ele de pé, com a coronha da arma no coldre há uns três centímetros do meu nariz. Aí, um outro, bancando o "bonzinho", disse mais ou menos o seguinte:- Vocês não então entendendo... Estão trocando as palavras como revolta, sangue etc. e não é aí que a coisa tá pegando...Eu, claro, perguntei educadamente se ele poderia me esclarecer melhor. E, como se tivesse levado um "telefone" nos tímpanos, ouvi, estarrecido a resposta, em voz mais baixa, gutural, cheia de mistério, como quem dá uma dica perigosa:- O problema é essa história de negro, negro, negro..."
O Mestre Sala dos Mares(João Bosco / Aldir Blanc)(letra original sem censura)Há muito tempo nas águas da GuanabaraO dragão do mar reapareceuNa figura de um bravo marinheiroA quem a história não esqueceuConhecido como o almirante negroTinha a dignidade de um mestre salaE ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatasFoi saudado no porto pelas mocinhas francesasJovens polacas e por batalhões de mulatasRubras cascatas jorravam das costasdos negros pelas pontas das chibatasInundando o coração de toda tripulaçãoQue a exemplo do marinheiro gritava entãoGlória aos piratas, às mulatas, às sereiasGlória à farofa, à cachaça, às baleiasGlória a todas as lutas inglóriasQue através da nossa históriaNão esquecemos jamaisSalve o almirante negroQue tem por monumentoAs pedras pisadas do caisMas faz muito tempo
O Mestre Sala dos Mares(João Bosco / Aldir Blanc)(letra após censura durante ditadura militar)Há muito tempo nas águas da GuanabaraO dragão do mar reapareceuNa figura de um bravo feiticeiroA quem a história não esqueceuConhecido como o navegante negroTinha a dignidade de um mestre salaE ao acenar pelo mar na alegria das regatasFoi saudado no porto pelas mocinhas francesasJovens polacas e por batalhões de mulatasRubras cascatas jorravam das costasdos santos entre cantos e chibatasInundando o coração do pessoal do porãoQue a exemplo do feiticeiro gritava entãoGlória aos piratas, às mulatas, às sereiasGlória à farofa, à cachaça, às baleiasGlória a todas as lutas inglóriasQue através da nossa históriaNão esquecemos jamaisSalve o navegante negroQue tem por monumentoAs pedras pisadas do caisMas faz muito tempo Fonte: História do Negro Brasileiro, Clóvis Moura, São Paulo: Editora Ática S.A., 1992 CEFET (SP) in:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/historia/historia_do_brasil/republica_velha/revolta_da_chibata

O Álamo - EUA x México




A rivalidade entre México e Estados Unidos possui raízes históricas. Um dos episódios mais polêmicos na história dos dois países foi: a batalha do Álamo, que ainda gera controvérsias nos dois lados da fronteira México/Estados Unidos.As principais razões dessas controvérsias são três: 1. As lacunas da documentação (alguns detalhes sobre o episódio jamais serão conhecidos, pois morreram com os que tombaram na batalha);2. As discordâncias entre os diversos relatos, e especialmente no que se refere ao número de mortos na batalha;3. A parcialidade das versões contadas nos dois lados da fronteiras.
Último entardecer de David Crockett, Batalha do Álamo, de Mark Churms Para os mexicanos, a revolta costuma ser lembrada como um ato de traição, o primeiro passo para a política expansionista e imperialista dos "malditos gringos" que teriam "roubado" terras que pertenciam ao México. Nos Estados Unidos, o episódio costuma ser lembrado como um exemplo de "heroísmo": os rebeldes texanos teriam lutado bravamente em nome da "liberdade" contra os "terríveis" soldados mexicanos liderados pelo "sanguinário" general Santa Anna. Ou seja, os sentimentos patrióticos de ambos os lados dificultam uma visão objetiva do que realmente aconteceu.A origem do Forte Álamo
O Forte Álamo, hojeO Álamo era um forte, fundado por uma expedição missionária espanhola que tinha como objetivo catequizar os indígenas, convertendo-os ao catolicismo. O nome oficial dessa expedição missionária era Mission San Antonio de Valero, que também era o nome original desse forte. O forte consistia numa igreja e algumas construções, erguidas no início do século 18.Nessa época, o Texas era parte da colônia de Nova Espanha. O forte foi abandonado pelos espanhóis, depois que o México se tornou independente da Espanha, em 1821. Assim, o Texas, ou "Tejas" (em espanhol, o "j" é lido com som de "r"), como era chamado pelos mexicanos, tornou-se parte do México independente. Mas como veremos, não por muito tempo.As origens do conflitoEm janeiro de 1823, trezentas famílias vindas dos Estados Unidos vieram para o México e estabeleceram uma colônia no Texas. Essa colônia foi fundada por Stephen F. Austin e surgiu à margem do rio Brazos. Até então, o México era uma república federativa, em que os poderes regionais tinham maior autonomia e o poder federal era mais limitado.Essa situação mudou em 1835, quando o então presidente do México, o general Antonio López de Santa Anna Pérez de Lebrón, ou simplesmente general Santa Anna, aboliu a Constituição mexicana de 1824 e impôs uma nova que reduzia o poder dos governos provinciais e aumentava o do presidente da República.O general Santa Anna queria assegurar seu poder sobre todo o território mexicano, especialmente sobre o Texas, considerado um ponto estratégico, pois era visto, corretamente diga-se de passagem, como uma região vulnerável ao expansionismo do país vizinho do norte, os Estados Unidos. Laços culturaisNaquela época, vários colonos dos Estados Unidos já estavam viajando rumo ao oeste, com o objetivo de povoar as terras que eram habitadas pelos índios. O interesse do general Santa Anna pelo Texas preocupava os colonos estadunidenses, que, embora vivendo em território mexicano, ainda se sentiam ligados ao seu país de origem, tanto por laços culturais quanto por razões econômicas.Esses colonos já estavam acostumados a viver sob a Constituição mexicana de 1824, que lhes conferia maior liberdade. Assim, no dia 23 de fevereiro de 1836, rebeldes texanos capturaram o forte do Álamo, dando início a uma revolta separatista. Esses rebeldes aproveitaram a ocasião para declarar a independência do Texas e criar uma Constituição própria. O que chama a atenção é que essa revolta separatista não foi liderada pelos próprios mexicanos, mas por colonos estrangeiros (que eram minoria no Texas), o que torna duvidosa a legitimidade do movimento.Texanos e tejanosOs rebeldes eram em sua maioria colonos estadunidenses, mas não em sua totalidade. Entre os rebeldes texanos também havia alguns mexicanos de origem hispânica. Desses, chamados de "tejanos", os seguintes foram identificados pelos historiadores : Juan Abamillo, Juan A. Badillo, Carlos Espalier, Gregorio Esparza, Antonio Fuentes, José María Guerrero, Damacio Jimenes (Ximenes), Toribio Losoya, e Andrés Nava.Apesar de terem lutado ao lado dos colonos estadunidenses, os "tejanos" que defenderam o Álamo das tropas de Santa Anna foram durante muito tempo esquecidos pela versão oficial da História nos Estados Unidos. Nessa versão oficial da história, popularizada pelos filmes de Hollywood, todos os mexicanos foram retratados de maneira preconceituosa ou racista e apenas os "gringos" foram mostrados como heróis. Por outro lado, para muitos mexicanos, os "tejanos" que lutaram contra as tropas de Santa Anna não passaram de "traidores da pátria".Figuras folclóricas
James BowieOs rebeldes texanos enfrentaram tropas enviadas pelo governo mexicano num cerco que durou duas semanas. Quase todos os rebeldes foram mortos. Voluntários vindos de diferentes partes dos Estados Unidos foram ao Álamo para ajudar os rebeldes texanos. Entre esses voluntários estavam duas figuras folclóricas: os aventureiros Davy Crockett e James Bowie.Antes de lutar no Álamo, Davy Crockett já havia lutado contra índios. Ele também se dedicou à política, chegando a ser eleito deputado federal pelo estado do Tennessee. Nos filmes e gravuras dos livros, Davy Crockett quase sempre é retratado com um chapéu de pele de guaxinim. James Bowie era famoso por carregar consigo a faca que recebeu seu nome, a famosa faca Bowie. No Álamo, Bowie chegou a dividir o comando da resistência texana com o tenente coronel William Barret Travis.Problemas de saúde acabaram impedindo Bowie de participar mais ativamente dos combates e Travis acabou assumindo o comando sozinho. Apesar de doente, Bowie chegou a efetuar disparos com sua arma de fogo enquanto estava deitado na cama em seus momentos finais. Sabemos disso graças ao relato de um dos sobreviventes: Joe, um escravo de Bowie, que esteve com ele nos últimos momentos. Quanto a Davy Crockett, sua morte permanece um mistério. Não se sabe se ele morreu lutando ou se foi executado junto com outros após ter se rendido. Seja como for, os filmes de Hollywood preferiram mostrá-lo lutando até morrer.Número de mortos na batalha do ÁlamoNão se sabe quantos homens morreram ou foram feridos durante a batalha. Diferentes fontes divergem quanto ao número de mortos, tanto do lado dos rebeldes texanos, quanto do lado das tropas mexicanas. Inicialmente, se acreditou que o número de rebeldes texanos mortos no Álamo foi de aproximadamente 150. Tal estimativa se baseava numa nota escrita por Albert Martin, um mensageiro de Travis. Essa nota foi escrita no verso de uma carta de Travis. Na nota, Martin dizia: "Quando parti havia apenas 150 homens determinados a lutar ou morrer..."Mas, segundo registros de Ramón Martínez Caro, secretário do general Santa Anna, o número de texanos mortos pelas tropas mexicanas foi 183. Pesquisas posteriores adicionaram novos nomes à lista de texanos mortos no Álamo. Estima-se que o total de mortos no lado texano tenha sido 189. Segundo relatos mais antigos, 521 soldados mexicanos teriam sido mortos na batalha. Pesquisas posteriores revelaram que esse teria sido o total de baixas (a soma do total de mortos mais o total de feridos).Segundo a maioria das fontes mexicanas, o número de soldados mexicanos mortos teria sido de aproximadamente setenta homens, enquanto os feridos teriam sido algumas centenas. Estimativas mais recentes sugerem que o total de baixas no exército mexicano tenha sido de seiscentas.Derrota mexicanaEntre os poucos sobreviventes do lado texano estavam alguns escravos negros, mulheres e crianças. Apesar da derrota, o cerco deu tempo para que Sam Houston reunisse soldados e suprimentos para a batalha de San Jacinto, da qual, dessa vez, os rebeldes texanos saíram vitoriosos, consolidando sua independência em relação ao México.O desejo de vingar os companheiros mortos no Álamo também contribuiu para a vitória dos rebeldes liderados por Houston. A popular frase "Lembrem-se do Álamo!" (Remember the Alamo) era um convite à vingança. O fato de os rebeldes texanos estarem em inferioridade numérica tornou humilhante a derrota das tropas mexicanas.O destino de Santa Anna
General Santa AnnaApós a derrota na batalha de San Jacinto, o general Santa Anna foi capturado pelos rebeldes texanos e obrigado a reconhecer a independência da recém proclamada República do Texas, assinando o Tratado de Velasco. Em troca, o novo governo texano garantiu que ele voltasse em segurança para Veracruz. Quando partia do porto de Velasco, o general mexicano foi ameaçado por cerca de duzentos texanos: eles pretendiam tirá-lo do barco em que estava e matá-lo ali mesmo.Ao retornar para a Cidade do México, general Santa Anna recebeu mais más notícias: um novo governo o depôs da presidência e considerou nulo o Tratado de Velasco. Após um exílio nos Estados Unidos, ele retornou ao México. Seus compatriotas o culpavam pela perda do território do Texas para os Estados Unidos. Ele encontrou uma oportunidade para redimir-se da derrota anterior quando invasores franceses atacaram o México em 1838.Nessa guerra, ele chegou a ser ferido e uma de suas pernas teve que ser amputada. Pouco depois, ele ocupou a presidência pela quinta vez, onde permaneceu até ser deposto. Ficou cego em decorrência de uma catarata e morreu pobre no dia 21 de junho de 1876. Estava com 82 anos.A anexação do TexasEm 1845, o território do Texas foi anexado pelos Estados Unidos. Por causa disso, o governo mexicano declarou guerra aos Estados Unidos. Essa guerra se prolongou por dois anos, terminando com a derrota do México que acabou perdendo outras partes do seu território para os Estados Unidos, dentre as quais, a Califórnia e uma imensa área que corresponde aos atuais estados do Nevada, Utah e parte do Arizona, Novo México, Colorado e Wyoming. Pelo reconhecimento da perda do Texas e a cessão de outras partes do sue território para o vizinho poderoso, o derrotado México recebeu como pagamento cerca de 15 milhões de dólares.*Túlio Vilela, professor de história, formado pela USP, um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula".

A guerra civil dos EUA


Estados Unidos2 Artigo(s) publicado(s) sobre este assunto.Próximo (2)
2º ArtigoO Álamo - EUA x México

A Guerra Civil Americana (Guerra de Secessão)Infopédia - Editora Porto
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Imprimir O intenso crescimento territorial dos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, acompanhado de um rápido aumento da população, com muitos imigrantes europeus atraídos pela facilidade de adquirir terras, tornava ainda mais flagrante, o contraste entre o desenvolvimento do norte e o atraso do sul.No norte, o capital acumulado durante o período colonial, criou condições favoráveis para o desenvolvimento industrial cuja mão-de-obra e mercado, estavam no trabalho assalariado. A abundância de energia hidráulica, as riquezas minerais e a facilidade dos transportes contribuíram muito para o progresso da região, que defendia uma política econômica protecionista. Já o sul, de clima seco e quente permaneceu atrasado com uma economia agro-exportadora de algodão e de tabaco, baseada no latifúndio escravista. Industrialmente dependente, o sul era franco defensor do livre-cambismo, caracterizando mais um contraponto com a realidade do norte.O Acordo de Mississipi em 1820 proibia a escravidão acima do paralelo 36º40'. Em conseqüência, o presidente Monroe, que assinara o tratado, foi homenageado com a denominação de "Monróvia", para capital do Estado da Libéria, fundado na África em 1847, para receber os escravos libertados que quisessem voltar à sua terra. Em 1850 foi firmado o Compromisso Clay, que concedia liberdade para cada Estado da federação decidir quanto ao tipo de mão-de-obra.Em 1852, Harriet Beecher Stowe publicou a romance abolicionista A Cabana do pai Tomás, que vendeu 300 mil cópias só no ano de sua edição, sensibilizando toda uma geração na luta pelo abolicionismo. Dois anos depois surgia o Partido Republicano, que abraçou a causa do abolicionismo.Em 1859, um levante de escravos foi reprimido na Virgínia e seu líder John Brow foi enforcado, transformando-se em mártir do movimento abolicionista. No ano seguinte, o ex-lenhador que chegou a advogado, Abraham Lincoln, elegeu-se pelo novo Partido Republicano. O Partido Democrata, apesar de mais poderoso, encontrava-se dividido entre norte e sul, o que facilitou a vitória de Lincoln, um abolicionista bem moderado que estava mais preocupado com a manutenção da unidade do país. Em campanha Lincoln teria afirmado que "Se para defender a União eu precisar abolir a escravidão, ela será abolida, mas se para defender a União eu precisar manter a escravidão, ela será mantida". Apesar da questão do escravismo ser apenas secundária para Lincoln, o mesmo era visto pelos latifundiários escravistas do sul como um verdadeiro revolucionário.A eleição de para a presidência dos Estados Unidos aborreceu os sentimentos dos dirigentes políticos dos estados do sul, cuja economia se baseava na cultura intensiva com recurso sistemático à mão-de-obra escrava. No seu discurso de tomada de posse, Lincoln reafirmara o propósito de preservar a unidade da nação americana, colocando à parte a idéia de forçar a abolição do sistema escravagista. Tal atitude não foi suficiente para tranquilizar os elementos mais radicais dos estados do sul, que se constituíram numa Confederação que se separou da União e desencadeou operações militares contra as tropas desta, estacionadas em Fort Sumner (12 de Abril de 1861).O conflito deste modo desencadeado foi favorável à Confederação durante o primeiro ano de guerra, mas a situação inverteu-se a partir da primavera de 1862, terminando com a derrota militar da Confederação sulista. O Norte, dirigido por Lincoln, dispunha de vantagens significativas, de entre as quais se devem destacar as seguintes: - Uma população mais numerosa, na ordem dos 22 milhões de habitantes, contra os 9 milhões do sul, dos quais pelo menos um terço eram escravos;- Agricultura apta a produzir gêneros alimentícios em quantidade e variedade capaz de alimentar não apenas a população civil mas ainda as tropas na frente de combate, enquanto a produção agrícola do sul se limitava a gêneros de exportação, não comestíveis, como o algodão; - Forte capacidade industrial, aproximadamente cinco vezes superior a do Sul, incluindo o exclusivo quase completo da indústria de armamento.Enquanto Lincoln colocava a tônica no desiderato de defender a União, recusando ao Sul o direito de se separar do todo nacional, o Sul insistia no seu direito à independência. A questão da escravatura foi assim ficando secundarizada e só voltou ao primeiro plano quando Lincoln (num momento em que se podia já prever a derrota da Confederação, embora à custa de grandes sacrifícios) decidiu introduzir um novo elemento dinamizador da opinião pública do Norte, que simultaneamente funcionasse como fator de desencorajamento da opinião pública do Sul. Fê-lo assinando, em 22 de setembro de 1862, a Proclamação de Emancipação dos escravos, na qual se estipulava que os escravos que vivessem no território da Confederação passariam a ser pessoas livres a partir de 1º de Janeiro seguinte. Deu assim uma grande satisfação ao movimento abolicionista, em cujas preocupações a abolição da escravatura ocupava o primeiríssimo lugar, mudando deste modo o sentido da guerra. A partir deste momento, a guerra trava-se com dois objetivos, um de carácter político (a preservação da unidade nacional) e outro de natureza social (o fim da escravatura), este último com fortes implicações na economia do país.Passada a primeira fase vitoriosa da guerra, o Sul rapidamente compreendeu que não poderia sair vencedor, mas nem por isso diminuiu o seu esforço bélico. As suas tropas bateram-se sempre com extrema bravura até a rendição final, em 9 de abril de 1865. A batalha mais feroz foi certamente a de Gettysburg (ilustração abaixo), travada durante três dias, com um balanço final superior a cinqüenta mil mortos. Para homenagear os caídos em combate, Lincoln pronunciou um breve discurso, em 19 de maio de 1863, no qual acrescentou uma outra dimensão à guerra - a defesa da democracia, definida como "o governo do povo, pelo povo e para o povo". A Guerra Civil Americana, também denominada Guerra da Secessão, produziu maior número de baixas que qualquer outro conflito em que os Estados Unidos se envolveram. Contaram-se mais de 600.000 mortos e metade do país ficou em ruínas. A reconstrução da economia do país (especialmente a do Sul) foi penosa e longa. A unidade nacional foi preservada, e a abolição da escravatura, proclamada por Lincoln, foi pouco depois consagrada na Constituição (13ª Adenda). O próprio Lincoln caiu vítima de um atentado perpetrado por um radical sulista. Os negros, agora livres, integraram-se no mercado de trabalho como assalariados, mas encontraram enormes dificuldades na conquista da igualdade real. As perseguições brutalíssimas por parte de organizações racistas como o Klu Klux Klan e as discriminações de várias ordens (no direito eleitoral, no mercado de emprego, no acesso ao ensino e à habitação etc.) de que foram vítimas só foram eficazmente combatidas por um amplo movimento social encabeçado por Martin Luther King Jr., na década de 60 do século passado.ANÁLISE DA GUERRAAté hoje, muito se discute por que a União venceu (ou por que a Confederação perdeu) a guerra. As vantagens da União que contribuíram para o sucesso desta, e que são largamente aceitas entre historiadores, incluem:• A economia industrializada do Norte, em contraste com a economia agrária do Sul. Esta economia industrializada ajudou na fabricação de armas e outros suprimentos. • A grande e eficiente malha ferroviária do Norte, que permitiu o transporte rápido de tropas. Apesar de o Sul ter ao longo da guerra mais quilômetros de ferrovias per capita, várias destas ferrovias não eram compatíveis entre si, e não formavam uma malha ferroviária consistente - as tais ferrovias serviam primariamente para o transporte de algodão dos campos para os portos. A Guerra Civil Americana foi a primeira guerra da história onde ferrovias desempenharam um importante papel. • Uma maior população, e taxas maiores de imigração no Norte, que possibilitou que mais pessoas pudessem atuar na guerra como soldados.• A possessão de uma forte força naval, que levou ao bloqueio econômico bem-sucedido da Confederação por mar. • O governo estável e popular da União. • A causa moral proclamada pela Proclamação de Emancipação, que deu à União um incentivo adicional em continuar os esforços de guerra.• O recrutamento de afro-americanos às forças da União, após a "Proclamação de Emancipação", que foram usados primariamente como arma ideológica contra a Confederação. Afro-americanos não foram autorizados a atuar nas forças militares da Confederação até as semanas finais da guerra. • O péssimo uso de recursos existentes em ofensivas por parte da Confederação, e na falha desta em usar táticas de guerrilha contra o sistema de transportes e de comunicação da União. • A falha da Confederação em conseguir suporte militar de qualquer outro país, primariamente por causa dos resultados da Batalha de Antietam e da Proclamação de Emancipação, em 1863.DESFECHOCustos da guerraA guerra terminou com a rendição incondicional das forças confederadas. Não houve conflitos de guerrilha significante. Muitos oficiais do alto escalão da Confederação escaparam para a Europa, o México e o Brasil, entre outros países. Davis foi capturado e aprisionado por dois anos, e libertado em seguida. Nenhum oficial confederado foi processado por traição.Baixas
Soldado confederado morto, Petesburg, Virgínia, 1865Oficialmente, um total de 558 052 soldados morreram durante a Guerra Civil Americana. Considerando soldados desaparecidos, o total sobe para aproximadamente 620 mil. O número de feridos é de aproximadamente 275 mil na União e de 137 mil na Confederação. Estes números fazem da Guerra Civil Americana a mais sangrenta de toda a história dos Estados Unidos. Aproximadamente 360 mil soldados da União e 198 mil da Confederação morreram. O número de americanos mortos na Guerra Civil Americana é maior do que a soma de americanos mortos durante todos os outros eventos da história militar dos Estados Unidos, desde a Revolução Americana de 1776 até tempos atuais. Três quintos de todas as mortes foram causados por doenças, um quinto por lesões e ferimentos e apenas um quinto morreu diretamente em combate.Sócio-econômicos e culturais A Guerra Civil Americana drenou os recursos financeiros do Norte e arruinou completamente a economia do Sul. O custo total da guerra foi de 115 bilhões de dólares. Grande destruição ocorreu no Sul por causa da guerra. Inúmeras fábricas, estabelecimentos comerciais e residências foram destruídos e campos foram queimados pelos soldados do Norte. O monopólio mundial do algodão sulista foi destruído. Imediatamente após a guerra houve o aparecimento de grandes ressentimentos e atritos entre a população do Sul e do Norte dos Estados Unidos, que perduraram por várias gerações. Ressentimentos da população sulista contra o Partido Republicano, o partido de Abraham Lincoln, também surgiram. Os republicanos teriam grandes dificuldades em vencer quaisquer eleições federais até a década de 1970, e mesmo em tempos atuais, os Estados do Sul são governados em sua grande parte por democratas.Nenhum programa governamental foi previsto para a integração profissional e econômica do Sul aos Estados Unidos da América. O Sul perdeu toda sua influência política, econômica e cultural nos Estados Unidos. Os ideais tradicionais do Sul passaram a não ter nenhuma influência no governo federal. Enquanto o conflito assolava os Estados americanos, a exportação de algodão pelos Estados do Sul ao Reino Unido ficou altamente prejudicada - o setor têxtil inglês a importar algodão de duas de suas colônias - o Egito e a Índia, e também incentivando outros países produtores de algodão - inclusive, o setor algodoeiro no Brasil. Foi o "surto nas exportações brasileiras de algodão".A Guerra Civil Americana causou a urbanização das terras do oeste e das áreas centrais norte-americanas, contribuindo ainda mais para o crescimento da economia, a expansão industrial e o desenvolvimento do capitalismo dos Estados Unidos.Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela União ao longo da guerra, graças ao esforço de guerra, o Norte cresceu de maneira surpreendente, principalmente na metalurgia, transporte ferroviário, armamentos e naval. Além do desenvolvimento tecnológico, houve ganhos no campo da medicina, escolas e instituições de ensino superior. O comércio cresceu de maneira exponencial, espalhando-se para todo o território americano. O padrão de cultura dos Estados Unidos passou a ser o ideal nortista de "trabalho duro, educação e liberdade econômica a todos", e que eventualmente, faria dos Estados Unidos a maior potência econômica do mundo.Mais de 60 mil livros e artigos foram escritos sobre a Guerra Civil Americana, fazendo desta guerra uma das guerras sobre as quais mais se escreveu na história da literatura. O poeta americano Walt Whitman predisse, corretamente, após o fim da guerra: "Uma grande literatura deverá surgir desta era de quatro anos".Efeitos no militarismoA Confederação foi abolida pela União, e os Estados rebeldes foram ocupados por tropas da União até 1877.A Guerra Civil Americana é considerada por vários historiadores como a primeira guerra moderna. O conflito gerou vários avanços na área militar. Táticas e armas foram criadas e introduzidas, que seriam largamente usadas nas próximas décadas, até o começo do século XX. Entre as principais inovações da guerra está a invenção de rifles que podiam atirar várias balas antes de serem recarregados, e o uso das primeiras metralhadoras.A Guerra Civil Americana foi a primeira guerra onde balões foram utilizados com o propósito de patrulhamento aéreo. Pela primeira vez, ironclads foram utilizados em guerra, bem como submarinos capazes de destruir outros navios. Minas terrestres e aquáticas foram outras inovações. Além disso, pela primeira vez na história mundial, ferrovias foram usadas para movimentar um grande número de soldados de uma região para outra, em questão de poucos dias. O telégrafo também foi usado, para comunicação, pela primeira vez.Além disso, a Guerra Civil Americana é considerada uma guerra moderna por causa da grande destruição gerada. Foi a primeira guerra total do mundo, onde todos os recursos disponíveis foram usados por ambos os lados para os esforços de guerra.Fim da escravidãoA Constituição americana de 1776 dizia que "todos os homens são iguais". Ironicamente, após a independência ter sido alcançada, e até o fim da Guerra Civil Americana, os Estados Unidos eram o maior país escravista do mundo. Após o fim da guerra, os americanos tentaram fazer esta igualdade uma realidade no país, através da aprovação da 13ª Emenda à Constituição americana, tendo sido ratificada no final de 1865, e que acabou oficialmente com a escravidão no país. A 14ª Emenda foi aprovada em 1868, definia cidadania e dava ao governo federal amplos poderes para forçar os Estados a fornecerem proteção igualitária às leis. A 15ª Emenda foi aprovada em 1870, e dava a todos os afro-americanos do sexo masculino maiores de idade o direito de voto.Porém, o lugar dos afro-americanos na sociedade americana continuou indefinido, e os afro-americanos continuaram a ser marginalizados em todo país, uma vez que leis antidiscriminação ainda não existiam na época. O sul seria ocupado por tropas do Norte até 1877, e diversos afro-americanos foram colocados em posições importantes do governo dos Estados sulistas, pelo governo americano. A maior parte da população sulista sentiu-se humilhada com estas medidas, favorecendo o surgimento de sociedades secretas como os Cavaleiros da Camélia Branca e a Ku Klux Klan, que empregavam a violência para perseguir os afro-americanos e defender a segregação racial.UniãoAlguns historiadores acreditam que a guerra tenha sido a maior falha da democracia. Afinal, como o próprio Lincoln disse no final da guerra: "A guerra foi uma segunda instância, da votação à bala". O único lema dos Estados Unidos então era "E Pluribus Unum", que significa "De Muitos Um". O lema é uma referência à criação dos Estados Unidos das 13 antigas colônias britânicas. Mas as divergências existentes entre o Norte e o Sul criaram um sentimento de indecisão nos americanos - a escolha entre formar uma única grande nação ou várias nações menores. Porém, o desfecho da guerra claramente estabeleceu que os Estados, por si só, não têm o direito ou o poder de sair da União.RefugiadosApós a derrota e a recessão político-econômica que se seguiu no Sul, muitos confederados migraram para outras regiões dos Estados Unidos (primariamente, para o Norte e o Oeste americano). Os Estados confederados em conjunto (com exceção da Flórida e do Texas) sofreram em conjunto um decréscimo populacional de cerca de 300 mil habitantes na década de 1870, 450 mil na década de 1880 e 550 mil na década de 1890. Muitos dos confederados que abandonaram o Sul americano emigraram para outros países, entre eles o Brasil, buscando fugir não somente da recessão econômica, bem como da perseguição e discriminação que se seguiu contra a população confederada. Essa fuga consistiu no maior êxodo populacional da história dos Estados Unidos.Os confederados encontraram no Brasil terra produtiva para o plantio de culturas das quais eles tinham ampla experiência, como algodão, milho e melancia. Não se sabe ao certo o número de confederados que abandonaram os Estados Unidos e se instalaram no Brasil. Estimativas variam entre quatro mil a vinte mil confederados que imigraram para o Brasil, onde se instalaram primariamente em Santa Bárbara d'Oeste, no interior de São Paulo.Fontes: Carton, Bruce. Reflections on the Civil War. Doubleday Books, 1981 Kirchberger, Joe H. Civil War and Reconstruction: an Eyewitness History. Facts on File, 1991 Barney, William L. Battleground for the Union: the Era of the Civil War and Reconstruction. Prentice Hall, 1990. Infopédia, Editora Porto, Porto, Lisboa.
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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os Estados Unidos emerge como potência no século XIX

Estados Unidos

Os Estados Unidos iniciaram seu processo de industrialização por volta de 1840, antes da Alemanha, Itália e Japão. Hoje é o país mais influente do mundo, e uma potência em sentido industrial, econômico, militar, cultural e político. Mas como os Estados Unidos se tornou uma potência? Vejamos o processo de industrialização norte-americano.

Território

O território que hoje é os Estados Unidos foi colonizado pelos ingleses, espanhóis e franceses. A primeira colônia formada pelos britânicos na América do Norte foi Jamestown, na Virgínia, em 1607. Até julho de 1776, quando foi rompido os laços com a metrópole, já havia sido constituídas ao todo treze colônias.

Por isso a bandeira norte-americana possui treze faixas horizontais, e no canto superior, cinqüenta estrelas, representando sua federação atual, que é de cinqüenta estados. Sua capital, Washington, é em homenagem a George Washington, herói da Guerra de Independência. O país tem uma república presidencialista. E sua constituição foi promulgada em 1787, e está em vigência até hoje.

Após a independência, os norte-americanos começaram a expansão territorial, rumo ao Oeste. Foi a fase do imperialismo interno, marcado por forte genocídio dos indígenas. Muitos territórios foram conseguidos após vitórias dos norte-americanos nas várias guerras, ou através de acordos.

Paralelamente a expansão territorial, criou-se condições necessárias para o processo de industrialização do país. A industrialização iniciou-se faixas de terras da região Nordeste, entre os Grandes Lagos e o oceano Atlântico. Foi nessa região que houve condições políticas, sociais e naturais, necessárias a industrialização.

Fatores iniciais para o fenômeno industrial

Quando os Estados Unidos ainda era uma colônia, houve um grande fluxo de imigrantes britânicos que foram se fixando na faixa litorânea, conhecida como Nova Inglaterra. Esses imigrantes trabalhavam em uma agricultura diversificada, em que predominava o trabalho familiar.

A economia das colônias do Norte era diferente das do Sul. Nas colônias do Norte havia uma estrutura de povoamento. Enquanto as do sul, predominava a exploração.

A economia do Sul era baseada nas plantations, ou seja, propriedades monocultoras em que se cultivava principalmente o algodão, com base no trabalho de escravos negros trazidos da África. A maior parte da produção era destinada a exportação para o Reino Unido. Os capitais ficavam concentrados nas mãos dos fazendeiros, e por isso, o mercado interno crescia lentamente.

Nas colônias do Norte predominava o trabalho assalariado, nas cidades, e familiar livre, no campo. Isso deu condições para a expansão das manufaturas, das casas comerciais e dos bancos. Os negócios cresciam rapidamente, e, os capitais se concentravam na burguesia industrial e comercial. A burguesia do Norte passou a ter interesses próprios, até ocorrer a independência em 1776.

Outra condição importante, além do histórico da população, foi as de ordem natural. O Nordeste dos EUA está próximo ao litoral, o que facilita os transportes e o intercâmbio comercial, além disso, dispunha de jazidas de carvão e de minério de ferro. O país tem importantes reservas minerais e energéticas.

Os Grandes Lagos favoreceram imensamente os transportes, e também a produção de energia. Os desníveis existentes entre os rios e lagos das regiões ajudaram no desenvolvimento. Foram construídas barragens para a produção de energia elétrica. Essa produção de energia foi importante para a expansão industrial, na época da Segunda Revolução Industrial.

Expansão industrial

As diferenças econômicas e políticas do Norte e do Sul resultaram em um conflito armado. Os estados do Sul, que tinham adotado a mão-de-obra escrava, criaram os Estados Confederados da América. Declararam a separação da federação norte-americana, que era dominada pela burguesia industrial e comercial nortista. Essa tentativa de separação resultou na Guerra de Secessão, que durou de 1861 a 1865.

A expansão da industrialização norte-americana ocorreu após a vitória da burguesia do Norte, no final da Guerra de Secessão. Com o interesse de aumentar o mercado consumidor para as ofertas de produtos que aumentavam cada vez mais, a burguesia do Norte ofereceu vantagens para a imigração. Em 1862, foi elaborada a Lei Homestead Act. Essa lei favorecia as famílias que migrassem para o Oeste, eles receberiam 65 hectares de terras, e caso continuassem cultivando por no mínimo cinco anos, teriam a posse definitiva. Essa lei gerou uma grande explosão de imigrantes para as terras do Oeste.

Essa ocupação territorial garantiu uma expansão do mercado interno (mais foi ruim para os índios, que além de perderem as terras, milhares perderam a vida). Em 1863, houve uma decretação do fim da escravidão. Isso possibilitou uma sociedade com relações de trabalho assalariado, que é bem melhor aos interesses da burguesia, pois o escravo que não tem renda, não pode consumir. Assim, foi se consolidando um grande mercado consumidor, que se tornou forte depois da Primeira Guerra Mundial.

Aglomerações industriais

O Nordeste foi a primeira região a se industrializar, e foi por muito tempo aonde a industria ficou concentrada.

As grandes siderúrgicas se concentraram ao redor de Pittsburgh, na Pensilvânia, devido a facilidade de recepção de minério vindo de Minnesota, e da proximidade dos consumidores. Detroit fica localizada na região central, facilitando o recebimento de matérias-primas, e o envio dos produtos prontos ao consumidor. Tornou-se a capital do automóvel, onde estão sediadas a empresas como a GM, Ford e Chrysler.

Nova Iorque é a capital financeira dos Estados Unidos (ela que antes se chamava Nova Amsterdan, foi fundada por holandeses, e depois tomada pelos ingleses). Nela estão sediadas as principais indústrias, e corporações comerciais e financeiras do país. Isso se deve, pelo fato de que Nova Iorque tinha uma localização estratégica, que servia de ponte entre o litoral e o interior.

Com grandes centros de pesquisa, como a Universidade de Harvard (fundada em 1664), e o Instituto Tecnológico de Massachusetts, surgem em Boston e em Worcester, indústrias de tecnologia de ponta, ligadas a robótica e informática, etc.

Com o tempo houve uma descentralização industrial, surgindo vários e novos ramos de indústrias. Todos esses novos ramos estão espalhados em várias cidades do Nordeste dos Estados Unidos.

A recente industrialização

Seguindo a tendência mundial, nos Estados Unidos também está havendo uma descentralização industrial. Os grupos de empresas procuram novas regiões que possuem um custo de produção menor. Assim, novos centros estão surgindo no Sul e no Oeste do país. Algumas cidades norte-americanas que crescem bastante atualmente como Atlanta, Orlando, Nova Orleans, Seatle, Dallas, etc, estão nessas regiões.

A industrialização no sul se intensificou após a descoberta de jazidas de petróleo, principalmente no Texas. Mas, foi depois da Segunda Guerra Mundial que o processo se intensificou ainda mais.

No Texas, localiza-se o Centro Espacial de Houston, sede da Nasa. Também, há a indústria de aeronáutica, e indústrias ligadas ao petróleo na região de Houston e Dallas.

Uma outra atividade importante no Sul é a prestação de serviços, particularmente o turismo. Na Flórida essa atividade é bem desenvolvida, devido às praias e ilhas próximas a Miami; à Disney World e ao Epcot Center, em Orlando.

A última região a se industrializar foi o Oeste. Muitas indústrias foram atraídas a essa região devido a disponibilidade de mão-de-obra, recursos minerais, potencial hidrelétrico.

No Oeste se encontra a mais importante concentração de indústrias dos Estados Unidos, visto que essa região começou a se industrializar recentemente, e recebeu incentivo governamental. Um bom exemplo é o Vale do Silício, que possui um centro de indústrias de tecnologia avançada, na região ao Sul de São Francisco.

Bem diferente das indústrias pioneiras, essas novas indústrias da Terceira Revolução Industrial, são fábricas leves e limpas, que empregam uma mão-de-obra qualificada e produzem bens sofisticados.

sábado, 5 de setembro de 2009

A república Velha


República Velha (1889 – 1930)
Os treze presidentes. Ao longo da República Velha, que é a denominação convencional para a história republicana que vai da proclamação (1889) até a ascensão de Getúlio Vargas em 1930, o Brasil conheceu uma seqüência de treze presidentes. O traço mais saliente dessa primeira fase republicana encontra-se no fato de que a política esteve inteiramente dominada pela oligarquia cafeeira, em cujo nome e interesse o poder foi exercido.
Desses treze presidentes, três foram vices que assumiram o poder: Floriano Peixoto, em virtude da renúncia de Deodoro da Fonseca; Nilo Peçanha, pela morte de Afonso Pena; e, finalmente, Delfim Moreira, pela morte de Rodrigues Alves, ocorrida logo após a sua reeleição.

Governo Provisório (1889-1891). Proclamada a República, na mesma noite de 15 de novembro de 1889 formou-se o Governo Provisório, com o Marechal Deodoro como chefe de governo. Eis o primeiro ministério da República:
• Interior: Aristides da Silveira Lobo;
• Relações Exteriores: Quintino Bocaiúva; • Fazenda: Rui Barbosa;
• Guerra: tenente-coronel Benjamin Constant;
• Marinha: Eduardo Wandenkolk;
• Agricultura, Comércio e Obras Públicas: Demétrio Nunes Ribeiro;
• Justiça: Manuel Ferraz de Campos Sales.

Primeiras medidas. O Governo Provisório, assim formado, decretou o regime republicano e federalista e a transformação das antigas províncias em "estados" da federação. O Império do Brasil chamava-se, agora, com a República, Esta­dos Unidos do Brasil - o seu nome oficial.
Em caráter de urgência, foram tomadas também as seguintes medidas: a "grande naturalização", que ofereceu a cidadania a todos os estrangeiros residentes; a separação entre Igreja e Estado e o fim do padroado; a instituição do casamento e do registro civil. Porém, dentre as várias medidas, destaca-se particularmente o "encalhamento", adotado por Rui Barbosa, então ministro da Fazenda.

O “encilhamento”. Na corrida de cavalos, a iminência da largada era indicada pelo seu encalhamento, isto é, pelo momento em que se apertavam com as cilhas (tiras de couro) as selas dos cavalos. É o instante em que as tensões transparecem no nervosismo das apostas. Por analogia, chamou-se "encilhamento" à poli­tica de emissão de dinheiro em grande quantidade que redundou numa desenfreada especulação na Bolsa de Valores.
Para compreender por que o Governo Provisório decidiu emitir tanto papel-moeda, é preciso recordar que, durante a escravidão, os fazendeiros se encarregavam de fazer as com­pras para si e para seus escravos e agregados. E o mercado de consumo estava praticamente limitado a essas compras, de modo que o dinheiro era utilizado quase exclusivamente pelas pessoas ricas. Por essa razão, as emissões de moeda eram irregulares: emitia-se conforme a necessidade e sem muito critério.
A situação mudou com a abolição da escravatura e a grande imigração. Com o trabalho livre e assalariado, o dinheiro passou a ser utilizado por todos, ampliando o mercado de consumo.
Para atender à nova necessidade, o Governo Provisório adotou uma política emissionista em 17 de janeiro de 1890. O ministro da Fazenda, Rui Barbosa, dividiu o Brasil em quatro regiões, autorizando em cada uma delas um banco emissor. As quatro regiões autorizadas eram: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. O objetivo da medida era o de cobrir as necessidades de pagamento dos assalariados - que aumentaram desde a abolição - e, além disso, expandir o crédito a fim de estimular a criação de novas empresas.
Todavia, a desenfreada política emissionista acarretou uma inflação* incontrolável, pois os "papéis pintados" não tinham como lastro outra coisa que não a garantia do governo. Por isso, o resultado foi muito diverso do espera­do: em vez de estimular a economia a crescer, desencadeou uma onda especulativa. Os especuladores criaram projetos mirabolantes e irrealizáveis e, em seguida, lançaram as suas ações na Bolsa de Valores, onde eram vendidas a alto preço. Desse modo, algumas pessoas fizeram fortunas da noite para o dia, enquanto seus projetos permaneciam apenas no papel.
Em 1891, depois de um ano de orgia especulativa, Rui Barbosa se deu conta do cará­ter irreal de sua medida e tentou remediá-la, buscando unificar as emissões no Banco da República dos Estados Unidos do Brasil. Mas a demissão coletiva do ministério naquele mesmo ano frustrou a sua tentativa.

A Constituição de 1891

Características. Logo após a proclamação da República, foi convocada uma Assembléia Constituinte para elaborar uma nova Constituição, promulgada em 24 de fevereiro de 1891.
A nova Constituição inspirou-se no modelo norte-americano, ao contrário da Constituição imperial, inspirada no modelo francês.
Segundo a Constituição de 1891, o nosso país estava dividido em vinte estados (antigas províncias) e um Distrito Federal (ex-município neutro). Cada estado era governado por um “presidente”. Declarava também que o Brasil era uma república representativa, federalista e presidencialista.

A Consolidação da República (1891-1894)

“Em vez de quatro poderes, como no Império, foram adotados três: Executivo, Legislativo e Judiciário”.
Executivo, exercido pelo presidente da República, eleito por voto direto, por quatro anos, com um vice-presidente, que assumiria a presidência no afastamento do titular, efetivando-se, sem nova eleição, no caso de afastamento definitivo depois de dois anos de exercício.
Legislativo, com duas casas temporárias Câmara dos Deputados e Senado Federal que, reunidos, formavam o Congresso Nacional (...).
Judiciário, com o Supremo Tribunal Federal, como órgão máximo, cuja instalação foi providenciada pelo Decreto n° 1, de 26 de fevereiro de 1891, que também dispôs sobre os funcionários da Justiça Federal. Os três poderes exercer-se-iam harmoniosa, mas independentemente.”

Civis e militares. A República foi obra, basicamente, dos partidos republicanos - notadamente o de São Paulo -, unidos aos militares de tendência positivista. Porém, tão logo o grande objetivo foi atingido, ocorreu a cisão entre os "republicanos históricos" e os militares. As divergências giraram em torno da questão federalista: os civis defendiam o federalismo e os militares eram centralistas, portanto partidários de um poder central forte.

A eleição de Deodoro. Conforme ficara estabelecido, a Assembléia Constituinte, após a elaboração da nova Constituição, transformou-se em Congresso Nacional, encarregado de eleger o primeiro presidente da República. Para essa eleição apresentaram-se duas chapas: a primeira era encabeçada por Deodoro da Fonseca para presidente e o almirante Eduardo Wandenkolk para vice, a segunda era constituída por Prudente de Morais para presidente e o marechal Floriano Peixoto para vice.
A eleição realizou-se em meio a tensões muito grandes entre militares e civis, pois o Congresso Nacional era francamente contrário a Deodoro. Em primeiro lugar, porque este ambicionava fortalecer o seu poder, chegando mesmo a se aproximar de monarquistas confessos, como o barão de Lucena, a quem convidou para formar o segundo ministério no Governo Provisório, após a renúncia coletiva do primeiro. Em segundo, devido à impopularidade de e ao desgaste de Deodoro, motivados pelas crises desencadeadas pelo "encilhamento", pelas quais, junto com Rui Barbosa, era direta mente responsável.
Prudente de Morais tinha a maioria. Teoricamente seria eleito. Contudo, os militares ligados a Deodoro fizeram ameaças, pressionando o Congresso a elegê-lo. E foi o que aconteceu, embora por uma pequena margem de votos. O vice de Deodoro, entretanto, foi derrotado por ampla diferença por Floriano Peixoto.

A renúncia de Deodoro. Deodoro, finalmente eleito presidente pelo Congresso, não conseguiu governar com este último. Permanente­mente hostilizado pelo Congresso, buscou o apoio dos governos dos estados. Na oposição estavam o mais poderoso dos estados - São Paulo - e o mais influente dos partidos - o PRP (Partido Republicano Paulista).
Em 3 de novembro de 1891, a luta chegou ao auge. Sem levar em conta a proibição constitucional, Deodoro fechou o Congresso e decretou o estado de sítio, a fim de neutralizar qualquer reação e tentar reformar a Constituição, no sentido de conferir mais poderes ao Executivo.
Porém, o golpe fracassou. As oposições - tanto civis como ' 'tares - cresceram e culminaram com a rebelião do contra-almirante Custódio de Melo, que ameaçou bombardear o Rio de Janeiro com os navios sob seu comando. Deodoro renunciou, assumindo em seu lugar Floriano Peixoto.

Floriano Peixoto (1891-1894). A ascensão de Floriano foi considerada como o retorno à legalidade. As Forças Armadas - Exército e Marinha - e o Partido Republicano Paulista apoiaram o novo governo. Os primeiros atos de Floriano foram: a anulação do decreto que dissolveu o Congresso; a derrubada dos governos estaduais que haviam apoiado Deodoro; o controle da especulação financeira e da especulação com gêneros alimentícios, através de seu tabelamento. Tais medidas desencadearam, imediatamente, violentas reações contra Floriano. Para agravar ainda mais a situação, a esperada volta à legalidade não aconteceu.
De fato, para muitos, era preciso convocar rapidamente uma nova eleição presidencial, conforme estabelecia o artigo 42 da Constituição, no qual se lia:

Art. 42 - Se, no caso de vaga, por qual­quer causa, da presidência ou vice-presidência, não houverem ainda decorrido dois anos do período presidencial, proceder-se-á à nova eleição.

Floriano não convocou nova eleição e permaneceu no firme propósito de concluir o mandato do presidente renunciante. A alegação de Floriano era de que a lei só se aplicava aos presidentes eleitos diretamente pelo povo. Ora, como a eleição do primeiro presidente fora indireta, feita pelo Congresso, Floriano simples­mente ignorou a lei.

O manifesto dos treze generais. Contra as pretensões de Floriano, treze oficiais (generais e almirantes) lançaram um manifesto em abril de 1892, exigindo a imediata realização das eleições presidenciais, como mandava a Constituição. A reação de Floriano foi simples: afastou os oficiais da ativa, reformando-os.

A revolta da Armada. Essa inabalável firmeza de Floriano frustrou os sonhos do contra-almirante Custódio de Melo, que ambicionava a presidência. Levadas por razões de lealdade pessoal, as Forças Armadas se dividiram. Custódio de Melo liderou a revolta da Armada estacionada na baía de Guanabara (1893). Essa rebelião foi imediatamente apoiada pelo contra-almirante Saldanha da Gama, diretor da Escola Naval, conhecido por sua posição monarquista.

A revolução federalista. No Rio Grande do Sul, desde 1892, uma grave dissensão política conduzira o Partido Republicano Gaúcho e o Federalista ao confronto armado. Os partidários do primeiro, conhecidos como "pica­paus", eram apoiados por Floriano, e os do segundo, chamados de "maragatos", aderiram à rebelião de Custódio de Melo.

Floriano, o Marechal de Ferro. Contra as rebeliões armadas, Floriano agiu energicamente, graças ao apoio do Exército e do PRP (Parti­do Republicano Paulista), o que lhe valeu a al­cunha de Marechal de Ferro. Retomando o controle da situação ao reprimir as revoltas, Floriano aplainou o caminho para a ascensão dos civis.

A "Política dos Governadores" e a Constituição da República Oligárquica

A hegemonia dos cafeicultores. Vimos anteriormente que a República tornou-se possível, em grande parte, graças à aliança entre militares e fazendeiros de café. Esses dois grupos tinham, entretanto, dois projetos distintos em relação à forma de organização do novo regime: os primeiros eram centralistas e os segundos, federalistas. Os militares não eram suficientemente poderosos para impor o seu projeto nem contavam com aliados que pudessem lhes dar o poder de que precisavam.
Os cafeicultores, ao contrário, contavam com um amplo arco de aliados potenciais e compunham, economicamente, o setor mais poderoso da sociedade. A partir de Prudente de Morais, que, em 1894, veio a suceder Floriano, o poder passou definitivamente para esses grandes fazendeiros. Mas foi com Campos Sales (189& 1902) que uma fórmula política duradoura de dominação foi finalmente elaborada: a "política dos governadores”.

A "política dos governadores". Criada por Campos Sales (1898-1902), a "política dos governadores" consistia no seguinte: o presidente da República apoiava, com todos os meios ao seu alcance, os governadores estaduais e seus aliados (oligarquia estadual dominante) e, em troca, os governadores garantiriam a eleição, para o Congresso, dos candidatos oficiais. Desse modo, o poder Legislativo, constituído por deputados e senadores aliados do presidente - poder Executivo -, aprovava as leis de seu interesse. Estava afastado assim o conflito entre os dois poderes.
Em cada estado existia, portanto, uma minoria (oligarquia) dominante, que, aliando-se ao governo federal, se perpetuava no poder. Existia também uma oligarquia que dominava o poder federal, representada pelos políticos paulistas e mineiros. Essa aliança entre São Paulo e Minas - que eram os estados mais poderosos -, cujos lideres políticos passaram a se revezar na presidência, ficou conhecida como a "política do café com leite".

A Comissão de Verificação. As peças para o funcionamento da "política dos governadores" foram, basicamente, a Comissão de Verificação e o coronelismo. As eleições na República Velha não eram, como hoje, garantidas por uma justiça eleitoral. A aceitação dos resultados de um pleito era feita pelo poder Legislativo, através da Comissão de Verificação. Essa comissão, formada por deputados, é que oficializava os resultados das eleições.
O presidente da República podia, portanto, através do controle que tinha sobre a Comissão de Verificação, legalizar qualquer resultado que conviesse aos seus interesses, mesmo no caso de fraudes, que, aliás, não eram raras.

O coronelismo. O título de "coronel", recebido ou comprado, era uma patente da Guarda Nacional, criada durante a Regência, como já vimos. Geralmente, o termo era utilizado para designar os fazendeiros ou comerciantes mais ricos da cidade e havia se espalhado por todos os municípios.
Durante o Segundo Reinado, os localismos haviam sido sufocados pela política centralizadora, mas eles renasceram às vésperas da República. Com a proclamação e a adoção do federalismo, os coronéis passaram a ser as figuras dominantes do cenário político dos municípios.
Em torno dos coronéis giravam o membros das oligarquias locais e regionais. O seu poder residia no controle que exerciam sobre os eleitores. Todos eles tinham o seu "curral" eleitoral, isto é, eleitores cativos que votavam sempre nos candidatos por eles indicados, em geral através de troca de favores fundados na relação de compadrio. Assim, os votos despejados nos candidatos dos coronéis ficaram conheci­dos como "votos de cabresto”. Porém, quando a vontade dos coronéis não era atendida, eles a impunham com seus bandos armados - os jagunços -, que garantiam a eleição de seus candidatos pela violência.
A importância do coronel media-se, portanto, por sua capacidade de controlar o maior número de votos, dando-lhe prestígio fora de seu domínio local. Dessa forma, conseguia ob­ter favores dos governantes estaduais ou federais, o que, por sua vez, lhe dava condições para preservar o seu domínio.

O Crescimento do Mercado Interno

O mercado consumidor. Na última década do século XIX, o mercado de consumo se expandiu e se transformou estruturalmente devi­do à implantação do trabalho livre.
Conforme já mencionamos, na época da escravidão, os senhores concentravam o poder de compra, já que eles adquiriam os produtos necessários não apenas para si e sua família, mas também para os escravos. Assim, antes da maciça imigração européia, a parte mais importante do mercado de consumo era representada quase exclusivamente pelos fazendeiros.
A implantação do trabalho livre emancipou não apenas os escravos, mas também os consumidores, pois a intermediação dos fazendeiros, embora não desaparecesse completamente, começou, gradativamente, a perder importância. Consumidores, com dinheiro na mão, decidiam por si mesmos o que e onde comprar. Com isso, o mercado de consumo se pulverizou. Conforme veremos adiante, esse crescimento e segmentação do mercado de consumo exerceu uma pressão poderosa no sentido da modernização da economia brasileira.

A tradição da monocultura. Entretanto, o principal setor da economia - a cafeicultura - continuava crescendo dentro de padrões coloniais. Na verdade, a cafeicultura não apenas precisava preservar o caráter colonial da economia brasileira, mas também ajudava a mantê-lo. Como no passado, a economia cafeeira estava inteiramente organizada para abas­tecer o mercado externo, no qual, por sua vez, adquiria os produtos manufaturados de que precisava.
Esse padrão econômico tinha como conseqüência o fraco desenvolvimento tanto da produção de produtos manufaturados, mesmo os de consumo corrente, quanto da agricultura de subsistência.
Com o crescimento do mercado de consumo que se seguiu à abolição, as importações aumentaram, pois até produtos alimentícios eram trazidos de fora.

O endividamento externo. As exportações, todavia, não cresceram na mesma proporção, de modo que, para financiar as importações, o governo começou a se endividar continua­mente. Esses empréstimos eram contratados sobretudo na Inglaterra, que, assim, tornou-se a maior credora do Brasil. Enfim, chegou-se a um ponto em que as dívidas se acumularam a ponto de desencadear uma crise por falta de capacidade de o país saldar as suas dívidas externas.

O funding loan. Em 1898, antes mesmo de Campos Sales tomar posse, o ministro da Fazenda, Joaquim Duarte Murtinho, foi à Inglaterra renegociar a dívida. Conhecido como funding loan (empréstimo de consolidação), o acordo financeiro negociado com os credores consistiu no seguinte: o Brasil substituiu o pagamento em dinheiro por pagamento em títulos dos juros dos empréstimos anteriores e um novo empréstimo lhe foi concedido para criar condições futuras de pagamento dos débitos.

O estímulo à industrialização. Diante de tal situação, o governo federal adotou uma política para desestimular as importações. Acontece que, com a República, a arrecadação dos impostos fora dividida do seguinte modo: os esta­dos ficavam com os impostos sobre as exportações, e o governo federal com os impostos sobre as importações. Ora, desestimular as importações significaria diminuir as suas receitas. Por essa razão, o governo federal recorreu ao imposto de consumo, que já havia sido instituído, mas até então não tinha sido cobrado.
Observemos que a simples instituição do imposto de consumo indicava que o mercado de consumo já havia atingido dimensões significativas e revelava a expectativa do governo em relação ao seu crescimento. E isso testemunhava a importância já adquirida pelo mercado interno.
Devido aos problemas gerados pelo aumento do consumo, o governo federal foi obrigado a estimular a produção interna a fim de diminuir as importações. Esse problema não existi­ria se as exportações, principalmente do café, fossem suficientes para cobrir todos os gastos com as importações. Não era esse o caso. Entretanto, para que o modelo agroexportador fosse preservado, era necessário criar condições para o abastecimento através da produção nacional própria. Foi por esse motivo que a industrialização começou a ser estimulada no Brasil.

A Política de Valorização do Café

A organização da economia cafeeira. As fazendas de café estavam espalhadas pelo interior, distantes dos grandes centros urbanos onde a produção era vendida. Com as precárias condições de transporte, aliadas ao fato de que os fazendeiros administravam diretamente as suas propriedades, os cafeicultores acabaram delegando a terceiros (os chamados comissários) a colocação de sua produção no mercado.
Esses encarregados da negociação das safras nos grandes centros eram, de início, pessoas de confiança com a incumbência de realizar as operações no lugar do fazendeiro. Aos poucos, de simples encarregados, esses comissários começaram a concentrar em suas mãos as safras de vários fazendeiros, tornando-se importantes intermediários entre produtores e exportadores, em geral estrangeiros.
As casas comissárias que então se organiza­ram passaram a negociar em grande escala o café de várias procedências. Com o tempo, apareceu um novo intermediário: os ensacadores. Estes compravam o café das casas comissárias, classificavam e uniformizavam o produto, adaptando-o ao gosto dos consumidores estrangeiros e, finalmente, o revendiam aos exportadores.
Com a profissionalização dos comissários, estes começaram a atuar também como banqueiros dos cafeicultores, financiando a produção por conta da safra a ser colhida.
Por volta de 1896, esse esquema começou a mudar. Os exportadores (estrangeiros), com a finalidade de aumentar os seus lucros, passa­ram a procurar diretamente os fazendeiros para negociar a compra antecipada das safras. Com seus representantes percorrendo as fazendas para fechar negócio, essa nova relação entre produtores e exportadores indicava, na verdade, que o mercado brasileiro encontrava­se em fase de profunda transformação.
De fato, conforme o esquema até então vi­gente, os comissários não apenas intermediavam a venda das safras, como também intermediavam a compra dos fazendeiros nas grandes casas importadoras de produtos de consumo estrangeiros. O esquema, portanto, era o seguinte: fazendeiros - comissários - ensacadores ---c› exportadores/importadores comissários - fazendeiros.
A decisão dos exportadores em negociar a safra diretamente com os fazendeiros modificou também a forma de atuação dos importadores que, não dispondo mais do comissário que intermediava as compras para o fazendeiro, tive­ram de espalhar agentes e representantes de vendas pelo interior. O mercado ficou mais segmentado mas, em compensação, mais livre.

A crise de superprodução. Contudo, desde 1895, a economia cafeeira não andava bem. Enquanto a produção do café crescia em ritmo acelerado, o mercado consumidor europeu e norte-americano não se expandia no mesmo ritmo. Conseqüentemente, sendo a oferta maior que a procura, o preço do café começou a despencar no mercado internacional, trazendo sérios riscos para os fazendeiros.
Nos primeiros dois anos do século XX, o Brasil havia produzido pouco mais de 1 milhão de sacas acima da capacidade de consumo do mercado internacional. Essa cifra saltou para mais de 4 milhões em 1906, alarmando a cafeicultura.

O Convênio de Taubaté (1906). Para solucionar o problema, os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de janeiro reuniam-se na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo. Decidiu-se então que, a fim de evitar a queda de preço, os governos estaduais interessados deveriam contrair empréstimos no exterior para adquirir parte da produção que excedesse o consumo do mercado internacional. Dessa maneira, a oferta ficaria regulada e o preço poderia se manter. Teoricamente, o café estocado deveria ser liberado quando a produção, num dado ano, fosse insuficiente. Ao lado disso, decidiu-se desencorajar o plantio de novos cafezais mediante a cobrança de altos impostos. Estabelecia-se, assim, a primeira política de valorização do café.
O governo federal foi contra o acordo, mas a solução do Convênio de Taubaté acabou se impondo. De 1906 a 1910, quando terminou o acordo, perto de 8 500 000 sacas de café haviam sido retiradas de circulação.
O acordo não foi propriamente uma solução, mas um simples paliativo. E o futuro da economia cafeeira continuou incerto.

Um Brasil operário se revela


O ano de 1917 foi tomado por grandes greves em todo o país. A elevação da carestia de vida, crise do trabalho, elevação dos preços, maior exploração do trabalho infantil e feminino são alguns dos fatores que contribuíam para o aumento da mobilização dos operários.

Pela primeira vez em sua história, o país enfrentou uma greve geral do operariado, em 1917, contra as condições de trabalho, a carestia e o desemprego. A primeira greve operária de que se tem notícia no Brasil foi realizada pelos gráficos dos três jornais do Rio, em 1858. Na época, trabalhava-se 15 horas nas oficinas desses periódicos. As cidades do período já possuíam bairros operários consolidados, formados ao redor das fábricas, que seguiam geralmente o traçado das ferrovias, como em São Paulo - na Lapa e Água Branca (zona oeste), no Bom Retiro, Bexiga e Barra Funda (centro), no Cambuci, Ipiranga e Vila Prudente (zona sudeste) e no Brás, Mooca, Belenzinho e Pari (zona leste)-, no Rio de Janeiro _certos subúrbios, como Bangu, além de Gamboa, São Cristovão, Gávea, Tijuca e Laranjeiras - e em Recife, em São José e Afogados. Uma grave crise econômica atingiu o Brasil em consequência da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 a 1917. Os salários dos trabalhadores não acompanhavam o aumento do custo de vida. Entre 1914 e 1923, o salário médio havia subido 71%. O custo de vida, considerando-se apenas itens básicos, havia aumentado 189%, o que significava uma queda de quase dois terços no valor real dos salários. O encarecimento dos produtos de primeira necessidade, em especial dos alimentos, era atribuído à ação dos açambarcadores, cujos agentes percorriam o interior do estado comprando toda a produção e armazenando-a para a exportação. Os gastos com a alimentação consumiam cerca de dois terços dos gastos domésticos. O salário médio de um operário em era em torno de 100 mil réis. O consumo básico de uma família (homem, mulher e dois filhos) chegava a 207 mil réis. O combate ao trabalho infantil foi eleito uma das principais bandeiras de luta do Centro Libertário de São Paulo, em março de 1917. Em março e abril se realizariam vários comícios do Comitê Popular de Agitação contra a Exploração de Menores nos bairros operários. A participação operária era expressiva nos comícios e no 1º de Maio. O passo seguinte era organizar ligas de resistência nos bairros onde residiam os trabalhadores. A primeira é criada em maio na Mooca. Iniciam movimentos por aumento salarial e melhorias nas condições de trabalho. Pelos meses de maio e junho várias fábricas de tecidos entram em greve. Os anarquistas deflagram um campanha com o lema ?Toda Em Julho, São Paulo parou. Sindicatos anarquistas lideraram uma paralisação contra os baixos salários e por melhores condições de trabalho. O governo deu ordem de abrir fogo em quem ficasse parado na rua. Operários e polícia entraram em conflitos violentos. Em 11 de julho, morreu o sapateiro Antônio Martinez. Os embates entre a polícia e os grevistas são freqüentes. Num destes conflitos, é assassinado o jovem sapateiro anarquista José Ineguez Martinez, em 9 de julho. O movimento grevista se radicalizou e atingiu toda a cidade. Bairros operários tornaram-se fortalezas de resistência, e barricadas se espalharam pelos bairros Lapa, Brás, Mooca, Barra Funda e outros. A partir daí a greve vai se alastrar rapidamente pela cidade, tomando o operariado de uma forte comoção e disposição para a luta. No mesmo dia da tragédia, à noite, o grupo de editores dos jornais anarquistas Guerra Sociale e A Plebe, os militantes do Centro Libertário de São Paulo, os socialistas do jornal Avanti e do Centro Socialista de São Paulo e os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e de associações político-sociais se reúnem no Centro Libertário para discutir os rumos da greve. Então se decide constituir o Comitê de Defesa Proletária (CDP). Edgar Leuenroth assume o papel de secretário do CDP com o pseudônimo Frederico Brito. O CDP decide transformar o enterro numa grande manifestação popular. Este ocorre no dia 11 de julho, sob intenso frio e chuva. Na cerimônia fúnebre vários oradores falaram, protestando contra a violência policial, pedindo a soltura dos grevistas presos, clamando pela liberdade de organização e exigindo a reabertura de duas entidades de orientação anarquista fechadas pela polícia, a Liga Operária da Mooca e a Escola Nova. O CDP desde aí manteve-se permanentemente reunido de forma clandestina para evitar represálias da polícia, coordenando os rumos da greve e divulgando os acontecimentos ocorridos em São Paulo através de circulares enviadas ao interior do estado à COB. Solidariedade seria a sua palavra de ordem e a greve geral sua bandeira de luta. Diversas categorias responderam ao apelo da CDP e em 11 de julho o nº de grevistas chega a vinte mil. Neste dia se realiza um comício com cerca de 3 mil pessoas na Praça da Sé, pedindo o direito de associação e liberdade para os presos. À noite, em reunião clandestina do CDP com representantes de 36 associações operárias e de várias comissões de greve, se decide agrupar em um único memorial as reivindicações comuns a todas as categorias, como também da população em geral. Quando a pauta de reivindicações se tornou pública em 12 de julho, São Paulo parou. Por três dias as atividades industriais, comerciais, serviços e transporte ficaram paralisados. Cerca de 100 mil trabalhadores estavam em greve. A greve repercute no interior do estado e nas principais cidades brasileiras, de onde as agremiações brindam seu apoio moral e financeiro. Em Santos a UGT decreta greve geral em solidariedade à greve de São Paulo. O governo suspendeu a repressão, e iniciaram-se as negociações. No dia 15 os representantes do poder público e alguns industriais cedem às reivindicações. No dia 16 a CDP convoca 3 comícios em locais diferentes da cidade para deliberar sobre sua proposta de aceitar o acordo. Num deles compareceram mais de 10 mil pessoas. Nos três comícios os trabalhadores votaram e aprovaram a ?Ordem do Dia do CDP? de retomada ao trabalho nos estabelecimentos onde os patrões aceitaram as bases do acordo e a manutenção nos demais lugares. A greve foi suspensa após empresários aceitarem 20% de aumento salarial, a liberação de grevistas presos e a suspensão de demissões por solidariedade aos grevistas?. Comemorada as vitórias obtidas ao som da 'Internacional', a greve obteve antes de tudo a conquista da confiança dos operários em suas próprias forças. Logo as greves se estenderiam também pelo Rio de Janeiro, Curitiba e cidades do sul do Paraná, com ocorrência de violentos choques com a repressão. No Rio, desde o início do ano estavam sendo promovidas intensas campanhas contra a carestia de vida, impulsionados pela FORJ, criada em 1906 e pelo Centro Libertário. Em janeiro é criado o Comitê Central de Agitação e Propaganda contra a Carestia e o Aumento dos Impostos, que passa a coordenar as manifestações na cidade e nos subúrbios onde são instalados sub-comitês. Em fevereiro são realizados uma série de comícios, apesar da proibição policial. O período é de organização e reorganização sindical e entre março e junho várias categorias se organizam. Em maio se dá uma greve de uma Fábrica de Tecidos e ocorrem choques com a polícia. Mas é em 7 de julho, quando o trágico desabamento do NY Hotel causa a morte de dezenas de operários, era o que falava para acirrar o descontentamento dos operários. O sindicato da construção civil encabeça um movimento que faz do enterro das vítimas um ato de protesto. Embalados pelas notícias de São Paulo, a greve é decidida em 17 de julho, e logo se generaliza. A FORJ elabora um programa semelhante ao do CDP, mas incluindo ainda a fixação do salário mínimo e salário igual para homens e mulheres. Em agosto a polícia fecha a FORJ. Algumas categorias obtêm conquistas. O movimento operário carioca iria viver o seu grande momento no ano seguinte. A Guerra dos Braços Cruzados No Rio Grande do Sul os primeiros incidentes se dão quando em Santa Maria um grupo de ferroviários da Viação Férrea do RS se apossa de uma locomotiva e percorre a linha de Marcelino Ramos propagandeando a greve. No dia 29 de julho circularia amplamente um protesto que denunciava a exploração dos trabalhadores pela administração da ferrovia. Em Porto Alegre, a greve é deflagrada em 31 de julho e termina em 4 de agosto, posteriormente às greves nos outros estados. Sua principal motivação é a carestia, especialmente dos gêneros alimentícios. A atuação dos anarquistas na greve começa um mês antes pela busca de revigoração da União Operária Internacional, que consta que em algum momento entre 1915 e 17 havia deixado de existir. Em Porto Alegre os anarquistas não agiam conjuntamente com os sindicatos existentes, mas em seu interior. A UOI, reorganizada com elementos de todas as categorias começou a agir no interior de cada sindicato e da própria FORGS para convocar uma mobilização popular contra a carestia. No dia 29 de julho se convoca uma reunião da FORGS, com a presença de mais de 500 pessoas. A reunião não é aberta pelo então presidente da FORGS, o tipógrafo Ezequiel Oliveira, mas pelo delegado da UOI, o pedreiro Luiz Derivi, passando então a palavra a Cecílio Vilar. Ambos os discursos combatiam uma posição, provavelmente a que ocupava os cargos da administração de então da FORGS, contrária a greve. Nessa reunião é nomeada a Liga de Defesa Popular, que iria organizar toda a mobilização. São nomeados Cecílio Vilar, Luiz Derivi e Salvador Rios, que escolheriam dois membros de cada associação filiada para compor a Liga. A pauta de reivindicações inclui, de modo geral, medidas para diminuição dos preços dos alimentos e artigos de primeira necessidade, da água, aluguel e bondes; aumento dos salários, jornada de 8 horas de trabalho e de 6 horas para mulheres e crianças. No dia 30 boletins da FORGS e do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Classes Anexas, distribuídos e afixados em postes no Campo do Bomfim, convocam os trabalhadores para uma concentração pública na Praça da Alfândega para o dia seguinte. A LDP havia preparado um comício para publicizar a greve no dia 31 de julho. Ao meio-dia os ferroviários do RS se declaram em greve, o que já condicionou a paralisação do alto comércio neste dia. Na tarde do dia 31 já estavam em greve as estações de PoA, Santa Maria, Rio Grande, Bagé, Gravataí, Passo Fundo, Couto, Cacequi e Rio Pardo. O inspetor da Viação Férrea promete despedir todos os grevistas, passa a admitir funcionários não especializados e solicita a imediata intervenção das tropas militares. Uma hora antes do comício já era intenso o movimento de populares na praça da Alfândega, em PoA. Meia hora depois chegava o policiamento, com mais de 120 homens da BM, Piquete da Chefatura de Polícia, Escolta Presidencial, Polícias Administrativa e Judiciária. O comício foi aberto por Luiz Derivi e contava com a participação de cerca de 4000 a 5000 pessoas e forte reforço policial. O orador mais saliente foi Cecílio Vilar, falando sobre os motivos da convocação do meeting e as causas da carestia: ?o momento não é para conciliações, e de luta. A luta mais justificável, a luta pela vida. Os operários devem se erguer como um só homem, para sair as ruas e conquistar o pão que nos está sendo roubado e a fim de protestar contra a exploração de que é vítima a classe trabalhadora?. Entre 31 e 4 de agosto a vida urbana em Porto Alegre foi completamente alterada. Participaram da greve pedreiros, padeiros, trapicheiros e estivadores, trabalhadores da Cia Força e Luz, operários têxteis, carroceiros, caixeiros, choferes, tipógrafos, entre outros. Estimativas apontam para cerca de 30.000 grevistas em PoA. No dia da deflagração da greve se reuniu a União dos Condutores de Veículos, decidindo a aderência da categoria. Estes trabalhadores passariam a controlar o tráfego na capital. No dia 1º de agosto o diretor da Santa Casa dirige-se à FORGS para solicitar providências no sentido de manter o fornecimento de gêneros à casa de saúde. Foram fornecidos ao diretor dois salvo-condutos, assim como ao Hospício São Pedro e Asilo da mendicidade, e estaria livre a venda de gêneros as residências onde houvesse doentes. No salvo-conduto, em cujo topo lia-se ?Justiça? em vermelho, constava também que ?O portador do presente tem plena autorização da Liga de Defesa Popular para conduzir carne verde e outros artigos destinados aos doentes da Santa Casa?. Sem o documento não havia circulação de carroças. No dia 2 de agosto se dá uma ocupação militar da estação de Santa Maria. Em represália, os grevistas arrancam trilhos, derrubam pontes e bloqueiam a via com dormentes e postes telegráficos em vários pontos do estado. Alguns trens passam a circular guarnecidos por tropas. Em Passo Fundo há violentos choques entre ferroviários e forças militares. Neste mesmo dia é convocada uma manifestação pública para pressionar o governo, cujos locais de concentração seriam a FORGS e a Praça dos Navegantes. A manifestação se dirigiu ao palácio do governo estadual, onde uma comissão da LDP, composta por Luiz Derivi, Cecílio Vilar e Zenon de Almeida é recebida pelas autoridades. Borges de Medeiros declara que decretaria medidas de controle da exportação e atenderia a questão de horas de trabalho e salários para os empregados do estado. A comissão saiu do palácio e comunicou aos já estimados 5000 manifestantes os intentos do governo estadual e municipal. Após as promessas de Borges a greve não declinou e tampouco tornou-se mais ?pacífica?. A partir daí aumenta a pressão pelo fim da greve tanto pela imprensa como pela polícia. No dia 3 o Chefe de Polícia ameaçou proibir os meetings e as reuniões em praças públicas, e a partir da tarde são proibidos os ?ajuntamentos?. A cidade se assemelhava à uma praça de guerra, em todos os recantos suspeitos haviam pelotões de infantaria e patrulhas de cavalaria cruzavam com freqüência. Nessas condições, sem possibilidade de manifestações, a greve se reduziria ao confronto patrão-empregado. Durante todo o dia 4 são feitas reuniões na sede da FORGS avaliando a situação, e às 23h a LDP publica um boletim anunciando o fim da greve e comprometendo-se a apoiar as categorias que ainda se mantivessem paralisadas. Se manterão ainda paralisados estivadores, padeiros, alfaiates, sapateiros, chapeleiros, pedreiros e carpinteiros, calceteiros e canteiros, operários de fábricas de móveis e operários de fábricas de meias. No dia 5 de agosto chega ao fim a greve dos ferroviários, diante da violenta intervenção das tropas federais, e sem nenhuma reivindicação conquistada devido a intransigência da direção da Viação Férrea, controlada na época por uma concessionária belga. Em relação a totalidade das reivindicações, pode-se dizer que houve vitória parcial dos trabalhadores. Muitos militantes anarquistas tiveram que sair de Porto Alegre devido às perseguições resultantes de sua atuação na greve. Isso, mais o fato de alguns terem encarado a atitude de Borges de Medeiros durante a greve como ?paternalista? fez com que ganhasse influência na FORGS um grupo pró-PRR, que ganha a direção da entidade em 1918. Nessa época Francisco Xavier da Costa já era conselheiro municipal pelo partido. Os sindicatos de influência libertária se afastam ou são afastados da FORGS e constituem a União Geral dos Trabalhadores. Mas essa direção se afastaria já em julho de 1918. Greves no interior do estado Em Pelotas a greve geral é deflagrada em 4 de agosto e não obtêm tantas conquistas. Entre as reivindicações estavam medidas contra a carestia, regulamentação da jornada de trabalho de 8 horas, 6 horas para mulheres e menores e proibição do trabalho de menores de 14 anos. Nos moldes da LDP, funda-se um Comitê de Defesa Popular. Uma passeata realizada no centro da cidade culmina com um comício na Praça 7 de julho. Durante o comício ocorre violenta intervenção policial, provocando tiroteios entre grevistas e polícia municipal A seguir, intervêm o Regimento de Cavalaria e o conflito vira uma verdadeira batalha campal, que terá como resultado vários feridos de ambas as partes. Em protesto, os operários se concentram, à noite, na Sede da Liga Operária. Novamente a polícia intervêm. Os operários resistem e o chefe de polícia tem seu cavalo abatido a tiros. Um funcionário da Intendência Municipal é mortalmente ferido. Após muita luta, os grevistas são desalojados do prédio da Liga Operária. A radicalização política das lideranças operárias era bem maior que a que ocorrera em PoA. Um dos boletins do Comitê chega a proclamar: ?Se tendes brio, sabeis repelir com asco aqueles que vos bajulam, quando de vós precisam e que vos maltratam quando servidos. Nada de voto; nada de urna!?. As forças da BM e o próprio Chefe de Polícia deslocam-se para a cidade para tentar mediar as negociações, não só entre patrões e empregados, mas principalmente entre o Comitê de Defesa Popular e a Intendência Municipal. A greve terminaria no dia 15 de agosto com a baixa dos preços de primeira necessidade. Também haveria greves importantes em Rio Grande, Passo Fundo, Santa Cruz, Montenegro, Bagé e outros centros. Devido ao não atendimento de suas reivindicações na greve anterior, em outubro de 1917 é deflagrada nova greve dos ferroviários, que utilizam-se de sabotagens e outras formas de ação direta. Em 20 de outubro soldados do Exército alvejam ferroviários em Santa Maria, provocando grandes protestos dos operários de Porto Alegre.